Vale a pena assistir Oppeheimer?

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5 min readJul 25, 2023

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A atração mais espetacular do filme acaba sendo outra coisa: o rosto humano. A história é, de fato, verdadeira e Oppenheimer é celebrado até hoje como um dos homens mais importantes da modernidade, sendo recompensado com a Medalha ao Mérito e o prêmio Enrico Fermi. Para realizar o filme, Nolan utilizou como base o livro Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, biografia escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin.

A cinebiografia apresenta desde a formação do jovem cientista com grandes nomes da física na Europa até sua relação com o governo norte-americano. Diversas figuras históricas, como Albert Einstein, Ernest Lawrence, Werner Heisenberg e Niels Bohr, aparecem em Oppenheimer.

Albert Einstein (Tom Conti), por exemplo, funciona na trama quase como uma entidade divina que aconselha Oppenheimer quando necessário, e as outras figuras importantes, como Richard Feynman (Jack Quaid), são limitadas a pequenas aparições nos experimentos físicos do Projeto Manhattan.

Claro que, por se tratar de um filme sobre o pai da bomba atômica, como o próprio título evidencia, é compreensível que haja uma certa falta de desenvolvimento nos outros físicos da trama. No entanto, ainda é algo que poderia ter sido melhor explorado, como foi trabalhado com o físico Edward Teller (Benny Safdie), que teve um ótimo desempenho mesmo com poucos minutos de tela.

Esta biografia de mais de três horas de J. Robert Oppenheimer (interpretado por Cillian Murphy) é um filme sobre rostos. Eles falam, muito. Eles escutam. Eles reagem a boas e más notícias. E às vezes se perdem em seus próprios pensamentos — nenhum mais do que o personagem principal, o supervisor da equipe de armas nucleares em Los Alamos, cuja contribuição apocalíptica para a ciência lhe rendeu o apelido de O Prometeu Americano (conforme o título da principal fonte de Nolan, a biografia de Kai Bird e Martin J. Sherman). O filme fala frequentemente de um dos princípios da física quântica, que afirma que observar fenômenos quânticos por meio de um detector ou instrumento pode mudar os resultados desse experimento. A edição ilustra isso constantemente reformulando nossa percepção de um evento para mudar seu significado, e o roteiro faz isso adicionando novas informações que minam, contradizem ou expandem nosso sentido do motivo pelo qual um personagem fez algo, ou mesmo se eles sabiam por que o fizeram.

Em Oppenheimer, vemos a construção do Laboratório Los Alamos, também conhecido como Projeto Y, cuja intenção era reunir físicos e industrialistas americanos no mesmo local. Situado em uma área remota e secreta do Novo México, o projeto tinha Oppenheimer como seu diretor e o intuito de construir uma arma letal o suficiente para encerrar de vez a Segunda Guerra Mundial.

Para quebrar um pouco a tensão, temos os casos amorosos de Oppenheimer, e seu julgamento, pós-guerra, quando quiseram jogar toda culpa das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki em suas costas (além de acusá-lo de ‘comunista’). Assim como toda sua filmografia, Christopher Nolan prevalece escrevendo as personagens femininas superficiais. Um tropo identificável nos filmes dele é a “Mulher na Geladeira”, onde uma personagem feminina é morta ou ferida com o propósito de motivar o protagonista masculino a fazer algo ou agir de determinada maneira.

Em Oppenheimer, não é muito diferente, pois temos Jean Tatlock sendo morta e as cenas de sexo não fazem muita diferença no desenvolvimento da personagem ou no relacionamento dela com o protagonista. O romance entre os dois é raso, mal explorado e não faria a menor falta se fosse descartado. E olha que Jean tinha sim algo a ser contado — Jean Tatlock era uma psiquiatra que conheceu Robert Oppenheimer quando ela tinha 22 anos e era estudante na Stanford Medical School, uma das poucas mulheres a fazê-lo em seu tempo. Conhecida por seu intelecto aguçado e boa aparência, Tatlock era uma figura formidável e considerada uma estrela em ascensão em seu campo. No entanto, ela também sofria de graves crises de depressão e sua saúde mental continuava sendo motivo de preocupação para seus entes queridos. Acredita-se que Oppenheimer tenha chamado o primeiro teste de arma nuclear de “Trinity” em homenagem a um dos poemas de John Donne, que foi apresentado a ele por Tatlock. Alegadamente, eles chegaram perto de ficar noivos duas vezes, mas Tatlock rejeitou sua proposta nas duas vezes. Mais tarde, Oppenheimer revelou que seus encontros se tornaram muito raros em 1939. Ele se casou com Kitty um ano depois.

Kitty é até uma personagem diferenciada na filmografia do diretor, mas continua presa ao papel de esposa, mesmo que haja uma ideia de profundidade devido ao tratamento que ela tem com seu bebê ou seu possível problema com álcool. personagem histórica também se destaca por mérito próprio, graças às suas importantes pesquisas nas áreas de biologia e botânica. Integrante do Partido Comunista, ela entrou em apuros durante a “caça às bruxas” do macartismo. Seu casamento com o pai da bomba atômica durou duas décadas, até a morte do cientista em 1967.

Há interesse pelo Projeto Manhattan e reconhecimento por suas contribuições científicas e consequências literalmente mortais no Japão e no mundo — Hayao Miyazaki está certo em odiar os EUA — , mas não importa porque não há total aproveitamento na maneira que escolheram contar essa história. Oppenheimer não foi nenhum coitado arrependido, mesmo que o filme e os EUA tentem vender essa ideia para o público.

Não é como se estivéssemos presenciando como tudo aconteceu, mas como se estivéssemos em uma aula de física e, por isso, tudo ali vai ser genial e mágico para alguns, mas para outros vai ser uma falação chata e entediante. o. O clímax da obra está na destruição e no resultado bem-sucedido, não na criação em si. É como o Presidente dentro do filme disse ao protagonista: Eles não ligam para quem criou a arma, mas sim para quem autorizou seu uso.

E aconteceu mesmo. A bomba atômica funcionou e explodiu tudo. Foi como assistir à própria morte na tela ou assistir ao nosso imaginário do que seria o fim do mundo e da vida. É uma cena silenciosa, amedrontadora e hipnotizante. É a melhor parte do filme.

https://deliriumnerd.com/2023/07/22/oppenheimer-christopher-nolan-critica/

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